domingo, maio 03, 2009

Este também pensa como eu

"Quando se começou a perceber que o Benfica dificilmente conquistaria o título, os responsáveis da equipa foram céleres a sair em defesa de Quique. Era tudo uma questão de adaptação. Mais dia, menos dia, os resultados seriam diferentes, melhores. E o treinador reforçava essa esperança, garantindo que o conjunto estava em crescimento, que não seria preciso esperar muito para ver o seu modelo de jogo em acção.
Nas últimas semanas, quando só a matemática ainda fazia com que na Luz alguém tivesse a coragem de falar na possibilidade de as águias terminarem a Liga na frente, começou também a ficar claro que até o segundo lugar seria complicado de obter. E não porque a distância para o Sporting fosse particularmente dilatada. Tudo porque, para além de depender dos deslizes contrários, o Benfica precisava de ganhar praticamente todos os jogos. E esse, claro, era o obstáculo mais complicado de todos. Só os (alguns) dirigentes e o técnico tinham opinião contrária. Nunca percebi se pensavam mesmo assim, se apenas o afirmavam por ser politicamente correcto...
Publicamente, Luís Filipe Vieira e Rui Costa fizeram questão de dizer que a confiança em Quique se mantinha inalterável. O presidente, num daqueles discursos inflamados e recheado de recados para fora e para os lados, até conseguiu desvalorizar uma eventual (cada vez mais certa) ausência na próxima edição da "Champions". E repetiu até à exaustão que, com ele, o clube não regressaria ao passado (não falava dos resultados desportivos...), que a estabilidade era sagrada.
Entendo a defesa da estabilidade como um factor crucial num clube que quer construir algo, mas tenho dificuldade em perceber que na Luz alguém pretenda edificar o que quer que seja quando o responsável pelas obras no terreno (leia-se treinador) teima em não acertar o passo. Já o disse e reafirmo: não acredito que Quique Flores seja o técnico encarnado na próxima época. E também não me parece normal que os dirigentes não consigam ver o óbvio: que o espanhol tem passado a temporada mergulhado em dúvidas, em equívocos tácticos, em opções mais do que discutíveis que, objectivamente, não conduziram a lado nenhum. Ou melhor: levaram o Benfica a fechar mais uma época sem alcançar as metas propostas.
Mas, como com Vieira tudo é possível, se calhar Quique vai mesmo iniciar o segundo ano do seu contrato à frente dos encarnados. Não acredito, mas não aposto contra. Tenho a certeza é que se o presidente fizer mesmo questão de fincar o pé e de optar por uma decisão que não agrada a muitos dos outros dirigentes, a vários futebolistas e à maioria dos adeptos (a contestação após o desaire na Madeira foi bem notória), o mais provável é ver o espanhol de "patins" nas primeiras rondas da temporada 2009/10, talvez logo ao primeiro mau resultado. Não foi assim com Fernando Santos? Foi! Vieira é que não se deve lembrar..."

Luís Avelãs
Record

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