"A 1.ª jornada da Liga foi um pesadelo de jogo defensivo e oportunidades circunstanciais, a dar uma ideia do que vai ser a época, agravando a tendência autodestrutiva dos últimos anos. Dirigentes sem formação desportiva, treinadores sem independência e jogadores com pouca qualidade têm inapelavelmente de refletir uma competição medíocre, por vezes má, pouco estimulante como espetáculo, quando nos abstraímos da paixão clubista e procuramos apenas o prazer agonístico.
Sem golos, sem vitórias, cada vez mais nivelada por baixo e num quadro de enorme pobreza geral, incapaz de iludir uma crise que só não se sente ao nível de nomenclatura que gosta de fingir que está tudo bem, sobretudo quando sentada nos dinheiros dos contribuintes, em nome do serviço público. O problema é sério, mas ninguém parece disposto a enfrentá-lo, refugiando-se em soluções marginais, como o marketing intensivo às bebidas alcoólicas ou a engorda de jogadores para exportação.
A perda de espectadores resulta da imparidade deste desporto tradicional com a emergência de propostas bem mais atrativas para gerações que preferem a experimentação ao sofá. Sem afinidades familiares, o apelo de um Leixões-Belenenses ou um Setúbal-Guimarães, como os que vimos, só se justifica por fervor insano ou curiosidade, que, após alguns minutos, se transforma em autêntico masoquismo.
Não foi à toa que o presidente da Liga apelou à marcação de golos neste novo campeonato, sendo tão evidentes as diferenças relativamente às outras Ligas europeias, onde se continua a cultivar o prazer pelo golo. Do alto da erudição que lavra por aí, o PSV-Ajax deste fim-de-semana terá sido um festim para jogadores básicos, treinadores burros e jornalistas tontos. Mas ninguém tira àqueles 35 mil espectadores o prazer de um jogo terminado a 4-3.
Na Holanda, na Alemanha, na França, na Inglaterra, chove bem mais do que em Portugal, mas não há depressões nos estádios de futebol. Não há memória de uma jornada inaugural tão pobre de golos, abaixo dos 11 de 2005, e de tão mau futebol, sem esquecer que seis desses golos surgiram em lances de bola parada, fruto de raros erros defensivos. Talento de que o povo gosta, quase nada!
Foi curiosa a referência de Carlos Carvalhal, logo no final do jogo da Luz, à popular imagem do "autocarro", puxando os galões à sua artificiosa "pressão baixa" que permitiu à equipa do Marítimo reter a bola em poder em extraordinários 30 por cento do tempo - o que na realidade corresponde a cerca de dez minutos, menos de 30 segundos individualmente para a maioria dos jogadores, considerando que o guarda-redes foi mesmo quem mais tempo a manteve. Um "must" de planeamento, atitude e dinâmica, baseado no seu velho conceito tático "todos ao molho e fé no Peçanha", penalizando sobremaneira um adversário que também não mostrou inteligência nem discernimento para perceber, com antecedência, o que lhe está reservado neste começo de época, depois de tanta ostentação e exuberância no período pré-competitivo. Se o Benfica aguentar a pedalada proposta por Jorge Jesus, está aberto o campeonato preferido dos treinadores portugueses: aguentar, aguentar mais um pouco e, eventualmente, aguentar até ao fim. Cada jogo e o emprego".
Sem golos, sem vitórias, cada vez mais nivelada por baixo e num quadro de enorme pobreza geral, incapaz de iludir uma crise que só não se sente ao nível de nomenclatura que gosta de fingir que está tudo bem, sobretudo quando sentada nos dinheiros dos contribuintes, em nome do serviço público. O problema é sério, mas ninguém parece disposto a enfrentá-lo, refugiando-se em soluções marginais, como o marketing intensivo às bebidas alcoólicas ou a engorda de jogadores para exportação.
A perda de espectadores resulta da imparidade deste desporto tradicional com a emergência de propostas bem mais atrativas para gerações que preferem a experimentação ao sofá. Sem afinidades familiares, o apelo de um Leixões-Belenenses ou um Setúbal-Guimarães, como os que vimos, só se justifica por fervor insano ou curiosidade, que, após alguns minutos, se transforma em autêntico masoquismo.
Não foi à toa que o presidente da Liga apelou à marcação de golos neste novo campeonato, sendo tão evidentes as diferenças relativamente às outras Ligas europeias, onde se continua a cultivar o prazer pelo golo. Do alto da erudição que lavra por aí, o PSV-Ajax deste fim-de-semana terá sido um festim para jogadores básicos, treinadores burros e jornalistas tontos. Mas ninguém tira àqueles 35 mil espectadores o prazer de um jogo terminado a 4-3.
Na Holanda, na Alemanha, na França, na Inglaterra, chove bem mais do que em Portugal, mas não há depressões nos estádios de futebol. Não há memória de uma jornada inaugural tão pobre de golos, abaixo dos 11 de 2005, e de tão mau futebol, sem esquecer que seis desses golos surgiram em lances de bola parada, fruto de raros erros defensivos. Talento de que o povo gosta, quase nada!
Foi curiosa a referência de Carlos Carvalhal, logo no final do jogo da Luz, à popular imagem do "autocarro", puxando os galões à sua artificiosa "pressão baixa" que permitiu à equipa do Marítimo reter a bola em poder em extraordinários 30 por cento do tempo - o que na realidade corresponde a cerca de dez minutos, menos de 30 segundos individualmente para a maioria dos jogadores, considerando que o guarda-redes foi mesmo quem mais tempo a manteve. Um "must" de planeamento, atitude e dinâmica, baseado no seu velho conceito tático "todos ao molho e fé no Peçanha", penalizando sobremaneira um adversário que também não mostrou inteligência nem discernimento para perceber, com antecedência, o que lhe está reservado neste começo de época, depois de tanta ostentação e exuberância no período pré-competitivo. Se o Benfica aguentar a pedalada proposta por Jorge Jesus, está aberto o campeonato preferido dos treinadores portugueses: aguentar, aguentar mais um pouco e, eventualmente, aguentar até ao fim. Cada jogo e o emprego".
João Querido Manha
Record
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