"Com razão ou sem ela, porém, o facto é que o presidente da UEFA — numa conferência de imprensa de abertura do Euro, onde estavam jornalistas do mundo inteiro — arrastou pela lama o nome do FC Porto. E o que fica é o facto último: os jornalistas presentes divulgaram para o mundo inteiro que o FC Porto, vencedor da Champions há quatro anos atrás, foi expulso da competição por ser «batoteiro». Foi a maior ofensa jamais feita ao clube — a todos os seus atletas, sócios, adeptos. Uma direcção que tivesse sabido desde o princípio defender o bom-nome do clube em toda esta trampa, em lugar de meter a cabeça na areia a ver se a tempestade passava por si, já teria, a esta hora, respondido à letra ao Sr. Platini e tê-lo-ia processado por ofensa grave.
Mas, como se viu na tristíssima entrevista na SIC, Pinto da Costa está à deriva e não sabe o que fazer. Desde o princípio do «Apito Dourado» que ele acumulou os erros de avaliação. Antes de mais, e como várias vezes o tenho escrito, misturou a sua vida pessoal com a vida do clube, sem tratar de ver com quem se metia e acautelar os interesses do clube que lhe cabia defender, acima de tudo; depois, continuou a confundir a sua defesa pessoal com a defesa do clube e imaginou que o grupo de amigos que o rodeia chegava para a encomenda, confiando a defesa do clube a esse vice-presidente que só tem causado danos ao FC Porto, chamado Adelino Caldeira, que tem o desplante de ainda se manter em funções; juntos, tomaram depois a «sábia» decisão de não recorrer do castigo do CD da Liga, por estritas razões de oportunismo competitivo, não alcançando que estava em causa, sobretudo, a honra do clube, que não é negociável, e não antecipando, por absoluta incompetência, as consequências jurídicas e desportivas que essa decisão poderia acarretar.
Basta ter ouvido Platini para perceber que, a menos que aconteça um milagre, a decisão definitiva já está tomada e é política, conforme seria de temer. Bem pode Pinto da Costa agitar, desesperado, os quatro pareceres dos «mestres» de direito a defender que as escutas em processo disciplinar são inconstitucionais. É claro que são, mas é notável que ele não tenha percebido que isso não interessa nem ao Menino Jesus. Que não tenha percebido desde logo que o desfecho, tanto interno como externo, do «Apito Dourado» iria ser político e, por isso, a defesa, para além dos aspectos jurídicos, deveria ter sido política desde o princípio. Com revolta, com combatividade, com contra-ataques dirigidos ao Benfica — o mentor de todo o processo — e não com silêncios, piadinhas deslocadas, e espertezas saloias.Longe de mim a ingratidão. Sei tudo o que o FC Porto deve a Pinto da Costa e sei que é por isso mesmo que ele é, de há muito, um alvo a abater pelos que não conseguem ganhar em campo nem sabem perder fora a dele. Mas, no momento mais importante da vida do clube, Pinto da Costa falhou em toda a linha e expôs o FC Porto a danos desportivos, financeiros e de prestígio devastadores. Deve tirar daí as consequências que se impõem: a vida não é a feijões e o cargo de presidente do FC Porto não é uma prateleira dourada de irresponsabilidade. Primeiro, deve demitir os incompetentes e yesmen que o rodeiam e procurar quem possa servir o clube sem ter de lhe prestar vassalagem pessoal; e, a seguir, deve pensar seriamente, se a sua própria continuidade à frente do clube e da SAD se tornou, a partir de agora, boa para ambas as partes ou apenas para si mesmo."
Miguel Sousa Tavares
A Bola
Miguel Sousa Tavares
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