domingo, maio 01, 2005

A educação em debate.

Sempre que se revelam novas conclusões do PISA, um programa internacional que estuda as competências de estudantes de 15 anos em três áreas(Língua, Ciência e Matemática), surgem inevitavelmente artigos de opinião, zurzindo na educação que o nosso País vai tendo. Hoje no "Expresso" temos dois destacados comentadores a dissertar sobre o assunto: João Pereira Coutinho e Henrique Monteiro.
JPC no seu estilo truculento diz-nos:" Por favor, não se alarmem, as nossas crianças contnuam a afocinhar na Matemática. Um terço dos alunos dá provas de manifesta ignorância na matéria, de acordo com uma avaliação qualquer de competências, conhecida pelo suculento nome de PISA. E que nos diz o PISA? Diz-nos que em 41 países, Portugal é o carro-vassoura. Ou quase. Isto exge naturalmente medidas - e o Governo, que alguns asseguram que existe, confirmou esta semana que tenciona lançar mão de algumas. Exemplos? Para começar, formação de professores. Segundo o Ministério da Educação, os professores têm fracas expectativas em relação aos alunos; os professores resistem à mudança; os professores faltam com regularidade; e, supremo ultraje, os professores dão aulas não monitorizadas. São, por assim dizer, uma seita sem controlo que anda por aí à solta. Além disso, é preciso gastar mais em educação e, sobretudo, ocupar os alunos durante os furos das aulas (os irmãos Cardinalli têm aqui uma palavra a dizer). Estranhamente, em toda esta conversa, ninguém referiu a evidência: o PISA refere-se aos alunos, não aos professores. E, se não me engano, os senhores do PISA vieram dizer que são os alunos, não os professores, que não sabem fazer contas. Ou, por outras palavras: são os alunos, e não os professores, que não trabalham, não estudam, não se interessam e, consequentemente, envergonham o País na "pisaria" internacional. Um ridículo pormenor que, naturalmente, não parece esfriar o calor reformista. O ideal, aliás, seria dispensar os alunos de qualquer medida educativa e enviar a malta para umas férias permanentes. Imaginem: salas vazias, professores enjaulados, crianças felizes e saltitantes. No espaço de uma geração, o PISA seria nosso e o insucesso escolar comida requentada".
Por sua vez, Henrique Monteiro aproveitando os resultados do dito Programa escreve: "Os resultados para Portugal são desastrosos. Entre 2000 (em que a situação era péssima) e 2003 (data do último estudo) ainda conseguimos piorar na Matemática e Ciência. Estes resultados nada têm a ver com falta de investimento na Educação (Portugal é um dos países que proporcionalmente mais investem), com o excesso de alunos por turma (em Portugal a média é de 15 (?), ao passo que na Finlândia e na Coreia, que lideram as tabelas, é de, respectivamente, 17 e 30), ou com baixos salários a professores (nem neste ponto somos particularmente diferentes dos outros). Onde Portugal falha, e falha redondamente, é no facto de o sistema ser pouco exigente (apesar de, por vezes, muito trabalhoso). É pois, por isso mesmo, importante que o primeiro-ministro tenha clocado a tónica na avaliação e na exigência, ao passo que a ministra apresentou vias para uma melhor formação dos professores. No entanto, continuando a política dos pequenos passos, haveria três medidas concretas de que o sistema educativo poderia beneficiar extraordinariamente. A primeira dessas medidas seria a nomeação, por concurso, de directores de escola (ao invés do esquema de eleição). Esta medida simples poderia contribuir para uma maior exigência, controlo e avaliação de cada profeesor na escola. A segunda medida, também simples, seria permitir que fossem as escolas a escolher o seu corpo docente. É o que se passa na Finlândia, onde quase todo o ensno é público e os resultados excelentes. Isto permitiria uma enorme estabilidade do corpo docente, criando um espírito próprio da escola, e acabando com a ideia esdrúxula de um Ministério em Lisboa colocar professores em Castro Marim ou Carrazeda de Ansiães. A terceira medida é ainda mais simples: submeter a exame os candidatos a professores, como requisito de habilitação para dar aulas. Isto impede que haja professores de Português que dão erros de palmatória ou professores de Matemática que não sabem o que é um integral (e acreditem que existem exemlares destes). São medidas práticas e modestas. Mas que resultariam numa enorme mudança".

Temos pois, duas visões diferentes do problema: um que aponta o dedo fundamentalmente aos alunos e outro que faz do professor o bode expiatório. Interessante.