quarta-feira, abril 16, 2008

O mito do futebol-empresa

"Pior é impossível. Este ano, correu tudo mal ao Benfica. Dito assim, é claro que parece que foi o fado, os inimigos ocultos, os árbitros, e mais não sei quantos fantasmas de ocasião, que são sempre chamados quando as coisas dão para o torto. Infelizmente, nada disso é verdade. A época do Benfica foi miserável por culpa da direcção do Benfica e de mais ninguém. Foram as escolhas feitas por Vieira que auto-destruíram a equipa de futebol, levando-a a um estado de humilhação, desânimo e vergonha. A lista de erros graves é infindável. Primeiro, manteve no cargo um treinador fragilizado, Fernando Santos. Ora, se o treinador está fragilizado, mais vale que saia no final da época. Não foi isso que aconteceu, mas depois foi despedido ao final de dois jogos oficiais! Um absurdo de amadorismo. Pelo caminho, mais dois erros graves. Simão Saborosa era um jogador essencial, à volta do qual a equipa jogara cinco anos. O presidente vendeu-o e mal vendido, e espetou mais um prego no caixão. Entretanto, o director financeiro da SAD, declara que existem 20 milhões de euros para investir em jogadores. Foi outro erro disparatado. Não só inflaccionou o preço de qualquer jogador com quem o Benfica estava em negociações, como deixou uma dúvida: não valeria mais a pena não ter vendido Simão?
Mas, o chorrilho de disparates continuou. Camacho chegou com aquela aura de salvador da pátria, que é um caminho para o desastre. As célebres ganas do espanhol fugiram para Espanha, e mal o Benfica perdeu com o Porto em casa, a equipa atirou com a toalha ao chão e desistiu do campeonato, ficando paralisada de cada vez que jogava na Luz. O problema passou a ser psicológico. Os jogadores evoluíam sem tino nem ânimo, com um desespero próprio dos atordoados, entre a euforia tonta e a depressão exagerada. Enfim, desgraça atrás de desgraça.
Mas, Vieira não estava ainda satisfeito com tanta desestabilização. Pois nada melhor do que inventar um “facto” novo, talvez soprado por algum mago da comunicação. Rui Costa é um excelente futuro “presidente”, e entretanto, dará um excelente “futuro” director desportivo, mas até ao fim da época, claro, ainda dará um excelente jogador. O 3 em 1 de Rui Costa, anunciado assim a meio da época, foi infeliz. Primeiro, porque dava a ideia que o actual presidente, Vieira, queria sair, o que só o fragiliza. Depois, porque criava um tempo de “tirocínio” público a Rui Costa. Antes de chegar à presidência, ele teria de ser um director desportivo, e presume-se que bom. Mas, assim como assim, iria levar com a responsabilidade do departamento de futebol durante uns anos, o que como é óbvio, caso as coisas não corressem bem, poderia inviabilizar o cargo seguinte, de presidente do Benfica. Quem o irá eleger para presidente se ele falhar redondamente como director desportivo?
O erro foi triplo porque ele ainda iria ser jogador até ao final desta época, o que certamente o colocaria em problemas não só com os colegas, mas também com o treinador. É claro que, do ponto de vista do nacional-porreirismo, do “somos todos do Benfica”, isto não parece grave. Mas a verdade é que é de um amadorismo total e bacoco fazer as coisas desta maneira.
As humilhações continuaram. Derrota com o Getafe, empates em casa, sai Camacho, cabisbaixo. E o que faz Vieira? Vai buscar rapidamente um novo treinador? Nada disso. Entrega a equipa ao simpático Chalana, antiga glória do clube. Não contente em ter desestabilizado a época desde o início, o presidente aposta que, com Chalana, o Benfica iria ser segundo, garantindo a Liga dos Campeões, e ainda ganhava a Taça de Portugal. Pois...
Fernando Pessoa, num dos seus poemas, diz que “a vida é para quem a conquista, não para quem sonha conquistá-la”. O Benfica continua na mão de sonhadores, e muito pouco competentes, e o resultado está à vista. E não me venham dizer que os resultados económicos vão ser bons e que há credibilidade financeira, porque em futebol, isso é secundário. Ou se ganha, ou se perde, não há meio termo. O mito do futebol-empresa é desastroso. Um clube não visa o lucro, mas sim a vitória. Antes vencer com algum prejuízo, do que ser humilhado com pequenos lucros".

Domingos Amaral
Diário Económico

2 comentários:

Anónimo disse...

este comentario esta excelente, assino por baixo completamente. ta tudo dito...

Saudacoes benfikistas

Anónimo disse...

não sei se doi do lado esquerdo ou do lado direito!
Mas querer ganhar a qualquer preço também tem um preço meu ..olha o boavista ,o estrela ,o estoril , salgueiros ,o chaves ,o varzim ,o gil ,o etc etc e tal
cuidadinho com o andor que o ''santo'' e de barro !!