sexta-feira, julho 08, 2005

O Sorteio ou a nomeação dos árbitros

Ao contrário do esperado, a assembleia geral da liga de clubes, reunida ontem, não decidiu sobre a questão do sorteio/nomeação dos árbitros. A resolução deste tão delicado assunto foi adiada por, aparentemente, os clubes estarem divididos quanto à decisão a tomar. A arbitragem, na história do futebol português, tem constituído ao longo dos anos, o tema mais polémico e que sempre suscitou as maiores controvérsias. Quem não se recorda do tempo em que as associações se degladiavam pela cadeira da arbitragem. Para se perceber o quanto era decisivo o cargo de presidente do conselho de arbitragem basta lembrarmo-nos que as associações o preferiam em detrimento da presidência da federação. A ideia que trespassava na altura (e bastas vezes confirmada) era a de que, quem controlasse a arbitragem tinha manifestamente mais possibilidades de vencer campeonatos. Foram os anos áureos do F.C.Porto enquanto Adriano Pinto (presidente da associação do Porto e adepto ferrenho do FCP) se manteve à frente dos destinos da arbitragem. Foi também o tempo da completa descredibilização da arbitragem onde já se sabia qual o vencedor mesmo antes do campeonato se iniciar. Felizmente esses tempos foram ultrapassados. Hoje podemos dizer, sem sombra de qualquer dúvida, que a arbitragem é bem mais transparente, embora se possa afirmar também, que a qualidade da maioria dos árbitros continua a deixar muito a desejar. Em Portugal, prevalece a ideia de quem ganha campeonatos é porque beneficia dos favores da arbitragem, daí que clubes que num ano sejam defensores da nomeação dos árbitros, no ano imediatamente a seguir são a favor do sorteio dos mesmos e vice-versa. É o folclore a que já nos habituaram e que em nada ajuda a pacificar o estado de sítio que é o futebol português. Se ainda houver um pingo de sensatez por parte dos dirigentes, a nomeação dos árbitros é claramente a melhor solução porque permite que para os jogos mais difíceis sejam nomeados os melhores árbitros. O sorteio constitui uma aposta clara no escuro (além de que contraria as determinações da FIFA), ao correr-se o risco de termos um árbitro com poucos jogos ou sem experiência nenhuma em desafios da grandeza de um Sporting-Benfica ou Benfica-F.C.Porto, com as consequências nefastas que daí possam advir. Além disso o sorteio desresponsabiliza os árbitros e os seus dirigentes. Permite ainda, a absurda hipótese, de um árbitro apitar apenas um jogo enquanto um outro apite a totalidade dos jogos. É bom que a tribo do futebol se consciencialize de que o erro vai estar sempre presente em qualquer arbitragem e que este é admissível desde que não premeditado. Castiguem-se os erros grosseiros, melhore-se o sistema de nomeações, mas deixem de lado o sorteio que apesar de poder minimizar a suspeição, não trará seguramente um acréscimo de qualidade na arbitragem.

2 comentários:

Sarrafeiro disse...

Caro Karadas, O teu post coloca um conjunto de questões que gostaria de aflorar e contribuir para um debate honesto e saudável. Começo por comentar o teu post:

"A resolução deste tão delicado assunto foi adiada por, aparentemente, os clubes estarem divididos quanto à decisão a tomar."
O adiamento vem na sequência de uma intervenção, vou ser simpático, mal educada do lfv quando se tinha proposto votar o sorteio, que originou uma enorme confusão e levou o Adriano Afonso a suspender a assembleia (decisão contestada) e marcar uma nova para aprovar a constituição de uma comissão (para negociar novo sistema!!!). Segundo O Jogo o lfv faz esta espantosa declaração "Quem me prejudicar tem em mim um inimigo".Claro como a água! Só não percebo qual o papel do sporting nesta palhaçada (tenho uma teoria, mas até me envergonho de a expôr)!

"A ideia que trespassava na altura (e bastas vezes confirmada) era a de que, quem controlasse a arbitragem tinha manifestamente mais possibilidades de vencer campeonatos."
Objectivamente, essa ideia ainda é actual só que é mais abrangente. Para além da arbitragem, também se torna importante controlar os outros órgãos da liga. O facto de a arbitragem ser “mais transparente” não abona em nada para a transparência. Todos os anos é “mais transparente” o que, quanto a mim quer dizer duas coisas: que não foi transparente no passado e que não o é no presente. Portanto, não tem que ser nem mais nem menos. Tem que ser transparente, ponto!


"Em Portugal, prevalece a ideia de quem ganha campeonatos é porque beneficia dos favores da arbitragem, daí que clubes que num ano sejam defensores da nomeação dos árbitros, no ano imediatamente a seguir são a favor do sorteio dos mesmos e vice-versa."
Pelo menos desde 1995 (PSL era presidente) que o sporting defende o sorteio puro. Independentemente de ganhar/perder campeonatos, foi sempre essa a posição do sporting. O mesmo não se passa com o Porto e o Boavista que agora já querem o sorteio puro...

"Se ainda houver um pingo de sensatez por parte dos dirigentes, a nomeação dos árbitros é claramente a melhor solução porque permite que para os jogos mais difíceis sejam nomeados os melhores árbitros."
Em teoria, sim. Na prática é o que se vê. E quando a teoria não espelha a realidade, não se muda esta última.

“O sorteio constitui uma aposta clara no escuro (além de que contraria as determinações da FIFA), ao correr-se o risco de termos um árbitro com poucos jogos ou sem experiência nenhuma em desafios da grandeza de um Sporting-Benfica ou Benfica-F.C.Porto, com as consequências nefastas que daí possam advir.”

A única forma que conheço para ganhar experiência é exercer essa experiência. Ninguém tem experiência em apitar jogos grandes até apitá-los. Os que têm “experiência de jogos grandes” só fazem asneiras nesses mesmos jogos. Pior, fazem mais asneiras nos jogos pequenos. Por isso, não vejam qual o problema de qualquer árbitro, desde que esteja na 1ª categoria, em arbitrar um jogo grande. Claro que há especificidades nesses jogos que merecem ser acauteladas pelos árbitros. Mas todos sabem quais são essas especificidades, só se torna necessário trabalhar, com o árbitro, essas especificidades. Olha, é como uma equipa se prepara para defrontar a outra com base em relatórios de observação do adversário. Mais matéria que deveria recair sobre os dirigentes.

“Além disso o sorteio desresponsabiliza os árbitros e os seus dirigentes.”
Essa não entendi. O sorteio não constitui uma carta branca para o erro e corrupção ou seja lá o k for. Continua a haver penalização para quem arbitra mal. Que eu saiba a função dos dirigentes não é só a nomeação, mas também a gestão de todo o sistema de arbitragem (avaliação, formação, etc..). Parece-me que é um mau argumento.

É bom que a tribo do futebol se consciencialize de que o erro vai estar sempre presente em qualquer arbitragem e que este é admissível desde que não premeditado. Castiguem-se os erros grosseiros, melhore-se o sistema de nomeações, mas deixem de lado o sorteio que apesar de poder minimizar a suspeição, não trará seguramente um acréscimo de qualidade na arbitragem.”
A grande vantagem do sorteio puro é que elimina a suspeição. Como num sistema judicial queremos ver que a lei é cega, genérica e abstracta também na arbitragem deve ser aplicado esses princípios. Não sei se é o teu caso, mas conheço muitos benfiquistas que, apesar estarem felizes por terem ganho campeonato, não se sentem confortáveis quando essa “vitória” não é reconhecida pelos adversários. Afinal de contas, os jogos foram feitos contra esses adversários, não é verdade?
Acho que do ponto de vista organizacional e cultural, o nosso futebol não está preparado para o sistema de nomeações, nem sei se alguma vez estará, pelo que a única forma de eliminar a suspeição é o sorteio puro. Claro, que o sorteio tem que ser acompanhado por medidas ao nível da formação, da avaliação, do treino, etc...mas haverá uma maior concordância entre o vencedor de um campeonato e o mérito inerente a esse feito. O que não acontece na actualidade.

karadas disse...
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