sexta-feira, abril 29, 2005

O estado do ensino em Portugal segundo a revista "Sábado".

A revista "Sábado" no editorial desta semana fala-nos da educação em Portugal nos termos que a seguir transcrevo:
"Esta semana Portugal descobriu outra vez que os seus alunos são analfabetos, ignorantes e estão mal preparados. O Governo divulgou um estudo da OCDE sobre os conhecimentos dos adolescentes de 15 anos em Matemática, Leitura e Ciência - ficámos em 25º, 24º e 27º lugar, respectivamente, num total de 41. Mesmo aqueles que se confundem com os números (pelos vistos, a maioria) reparam facilmente que isto, sejamos simpáticos, não é bom.
José Sócrates pareceu surpreso, mas não se entende porquê. Já devia ter percebido que a ideologia "moderna" que tem dominado o Ministério da Educação nos últimos anos ia dar este belo resultado.
Na Coreia do Sul, em segundo lugar no ranking, quase nenhum aluno reprova, porque os professores e colegas ajudam os que ficam para trás. Em Portugal, também quase nenhum aluno reprova, mas porque os professores têm de dar tantas justificações para um chumbo que precisam de tirar uma semana de férias para preencher papéis. O objectivo é evitar "traumas" e não "discriminar" os alunos menos capazes; o resultado é acabar com a disciplina e a exigência, favorecendo, objectivamente, os alunos sem problemas económicos, que têm ajuda e podem recorrer a explicadores.
Em Portugal, os professores são obrigados a dar aulas de forma "comunitária", com actividades "fora da escola", sendo pressionados a "cativar" os alunos e a certificar-se de que eles se divertem nas aulas. O objectivo é virar o ensino para a "vida prática"; o resultado é evitar que os alunos aprendam coisas básicas, como datas, números e acontecimentos.
Esforçado, o primeiro-ministro anunciou na quarta-feira (27) as suas medidas para resolver o problema. São duas. As escolas do primeiro ciclo vão estar abertas mais tempo para dar apoio aos alunos com dificuldades. E no próximo ano lectivo, além de conseguir colocar os professores a horas (o que pelos vistos é um milagre), vai estabilizar o corpo docente no 1ºciclo.
Está tudo muito certo. os alunos vão, portanto, passar mais tempo com os professores. Mas o que é que é suposto aprenderem com eles? Se a filosofia da educação não mudar, tudo ficará na mesma.
As escolas precisam de rigor, avaliação e trabalho. Os estudantes precisam de aprender e de perceber a utilidade de uma formação completa no futuro. Em Portugal, nunca houve uma educação inteligente - passámos do excesso de teoria autoritária ao excesso de informalidade irresponsável.
Os alunos precisam de aprender a matéria básica de forma competente para depois poderem compreender como aplicar os conhecimentos na sua vida. Isso faz-se com um investimento sério na educação básica e pré-escolar e com uma avaliação constante e uma responsabilização efectiva dos professores.
Enquanto o Governo não tiver coragem de enfrentar os sindicatos e exigir mais dos professores, não poderá tão cedo exigir mais dos alunos. E sem exigência não há educação de qualidade."

Sem dúvida que neste artigo se levantam algumas questões polémicas.

1 comentário:

Miguel Pinto disse...

E repete-se até a exaustão o "velho" discurso que vem do Estado Novo: o que é importante é que "os alunos aprendam coisas básicas, como datas, números e acontecimentos." Nada de novo...